Aqui é tudo tão diferente minha amiga, tem vezes que quando acordo sinto grande vontade de voltar no tempo, sei que isso não é possível, mas é tão estranho acordar sem ter alguém para dizer seus pesadelos, não digo alguém ao lado, tanto romantismo não seria normal de minha pessoa, mas sim alguém qualquer, ou qualquer alguém para ouvir as minhas bizarrices platônicas.
Não posso negar que há lugares lindos por aqui, você precisava ver as coisas que eu vejo, é uma beleza tão diferente, tão nostálgica que se você soubesse choraria comigo as coisas doces e tristes da vida aqui, são belas, mas entristecem muito, às vezes confesso-lhe que sinto muita vontade de chorar. As coisas aqui lembram aqueles antigos cinemas onde a pipoca era vendida na porta, só passava um filme e a cidade toda ia vê-lo, o velhinho que vendia pipoca era sempre um homem muito simpático que adorava as crianças e elas o correspondiam, é assim aqui, essa beleza nostálgica e livre, saudosista como só ela pode ser, aqui eu vejo felicidade e tristeza sendo encobertas por um sentimento que parece muito maior que ambos, saudade minha amiga, saudade!
Às vezes me sinto sozinho aqui, é tão frio, e como é bela a neve, ela me faz se sentir tão pequeno, as pessoas vão passando como que um filme avançando as cenas enquanto estranhamente eu ando em velocidade normal, às vezes eu lembro de quando era criança e na minha primeira tosse vinha um monte de gente ver o que eu tinha, penso nisso quando sinto alguma dor, talvez eu até a procure, e quando eu sinto vem uma saudade que afeta minha alma de maneira muito profunda. Queria que você visse o quão lindo é uma casa de madeira no gelo, você sente a impressão de que há antigos instrumentos de cordas escoceses tocando qualquer bela canção para lhe fazer chorar, queria discutir sobre a vida com você, o que vamos ser quando diminuirmos, conversar sobre todas as coisas que queríamos ter sido.
Confesso também entre tantas outras coisas que tanta nostalgia me atrai, aqui é muito diferente, aqui pouco se fala sobre o que realmente se importa, mas todos vêem o barco andando, acho que o problema é que fingem não ver, tentei uma vez tossir alto, o mais alto que pude, mas não é preciso dizer o nada que aconteceu. Aqui às vezes peço desculpas por qualquer coisa, é um sentimento estúpido de culpa e vontade de que alguém me dê um abraço, e talvez me ofereça um álcool qualquer. São coisas estranhas que eu não consigo explicar, e essas mesmas coisas estranhas me fazem chorar perto da lareira que esquenta o corpo, mas nunca a alma. Um filme certa vez esquentou minha alma a tirando da linha do trem e lembrando as histórias que eu contava, mas o filme acabou. Ás vezes eu escrevo coisas que nunca leio, e às vezes leio em papéis em branco coisas que eu nunca escrevi quando criança, me pergunto será que era tão sonhadora como eu lembro, ou acho que lembro?
Dia desses eu dormi a tarde e acordei por volta das seis e meia, achando que já fosse outro dia, mas não era, sentei em um pedaço de terra que não estava coberto pela neve, procurei por todos e lembrei o que já lembrava, me confessei de que ninguém mais aqui estava por que aqui nunca estiveram, lá sim todos estavam, mas aqui não, nunca, minha amiga te juro que morri ali.
Aqui as pessoas escondem mais a alma com roupas e cobertores, se tosse muito mais que antes, às vezes procuro errar a espera de um conselho mesmo que oculto, mas eles morreram assim como minha capacidade de sonhar o futuro, que deu vida a enorme capacidade de ter sonhos saudosistas. É tudo frio e lindo, como eu queria que você visse o quão lindo é, e nostálgico, tão nostálgico.
Fica aqui minhas últimas palavras pra você minha amiga, lembre-se de mim e de tudo que acontecia ai, de todos, lembre-se do que queríamos ser quando crescer. Quando você receber minha carta muitos pássaros terão caído, então não hei de me queixar mais, mande-me canções, eles insistem em nomear todo endereçamento igual ao que era antes, então será fácil, mas que idiotas, acham que eu sou estúpido a esse ponto. Tolos! Mande-me canções, muitas canções, envelhecidas como a manhã que eu recebe-las, envelhecidas e belas, tristes e doces, canções minha amiga me farão se sentir vivo, não como antes, mas pelo menos enquanto elas durarem eu vou me manter. Lhe prometo.
Adeus!